A derrota do governo federal no Congresso, que pode custar até R$ 46 bilhões aos cofres públicos nos próximos dois anos, foi mais do que um revés fiscal — foi um alerta político. O episódio revelou a dificuldade do Planalto em coordenar sua base e manter apoio para a agenda econômica, num momento em que o equilíbrio das contas públicas é peça central da narrativa de responsabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A proposta rejeitada previa ajustes em benefícios tributários e outros mecanismos de controle fiscal. Era tratada internamente como um pilar de sustentação do novo arcabouço. Com a derrubada, a equipe econômica passou a discutir alternativas emergenciais para evitar que o rombo se amplie — e o caminho mais provável passa por medidas impopulares, como aumento do IOF e redução de emendas parlamentares.
No Ministério da Fazenda, técnicos calculam que elevar o IOF temporariamente poderia render entre R$ 10 e R$ 15 bilhões anuais. Já o corte de emendas poderia significar uma economia próxima de R$ 20 bilhões. Mas ambas as soluções têm alto custo político.
O aumento do IOF tende a ser mal recebido pelo setor produtivo e por economistas, que alertam para o impacto sobre o crédito e o consumo. Já o corte nas emendas esbarra no centro de gravidade do poder no Congresso — onde o orçamento público virou moeda de influência e sobrevivência política.
A leitura nos bastidores é que o governo subestimou a resistência do Parlamento e superestimou sua capacidade de articulação, especialmente após meses de atritos silenciosos com parte da base aliada. Deputados e senadores têm usado o orçamento como instrumento de pressão, e a derrota fiscal foi, em certo sentido, uma demonstração dessa força.
Agora, a missão do presidente Lula é recompor a relação com o Legislativo antes que o impasse fiscal se transforme em crise política. Integrantes do Planalto defendem que o governo adote uma estratégia de diálogo mais consistente, com entrega de resultados concretos aos parlamentares e foco em pautas que unifiquem a base.
O tempo, porém, é curto. O Ministério da Fazenda precisa apresentar um plano de compensação até o fim de outubro, sob pena de gerar desconfiança no mercado e abrir espaço para rebaixamentos de confiança por agências internacionais.
Mais do que um problema de números, o episódio deixou evidente o desafio central do governo Lula: fazer política num Congresso cada vez mais autônomo, fragmentado e pragmático. A derrota fiscal, portanto, não é apenas contábil — é um retrato da nova correlação de forças em Brasília.

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