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Ramagem, o “desaparecimento perfeito”: silêncio, atestados e um sistema que não enxerga

 


A saída silenciosa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) do país escancarou um problema muito maior que seu simples sumiço: a absoluta fragilidade dos mecanismos de controle da Câmara dos Deputados.

Fontes ouvidas nos bastidores contam que Ramagem, condenado por envolvimento na trama golpista, simplesmente evaporou do Brasil sem que ninguém no Parlamento notasse. E não porque estivesse escondido — pelo contrário, teria usado instrumentos disponíveis a qualquer deputado: atestados médicos, entregues sem alarde, mas dentro da normalidade burocrática da Casa.

Enquanto isso, o parlamentar circulava tranquilamente por um condomínio de luxo em Miami. A Câmara só descobriu o paradeiro graças à reportagem divulgada pelo portal PlatôBR. A partir daí, iniciou-se uma verdadeira corrida para entender como um deputado pode deixar o país por meses sem que o próprio Legislativo perceba.

Sistema falho ou complacente?

A apuração preliminar encontrou dois atestados médicos que cobriam o período da ausência:
9 de setembro a 8 de outubro
13 de outubro a 12 de dezembro

Até aí, tudo dentro da rotina — se não fosse por um detalhe que causou perplexidade: Ramagem votou remotamente em algumas sessões da Câmara.

Ou seja, para o sistema oficial, ele estava presente, ativo, cumprindo função parlamentar. Automaticamente, sua ausência física deixou de ser um fator de alerta.

Na prática, isso revela uma brecha gravíssima: basta registrar voto pelo sistema remoto para desaparecer do país sem levantar suspeitas.

A pergunta que ficou no ar

A história expõe mais do que astúcia individual. Escancara uma falha estrutural:
Quem controla quem controla?

Se um deputado sob condenação judicial consegue sair do país, permanecer em um dos endereços mais caros de Miami e continuar registrando voto como se estivesse em Brasília, fica evidente que:

o sistema de controle é frágil;

a verificação de presença é quase simbólica;

e o Parlamento só reage quando a imprensa revela o que deveria ser do seu próprio conhecimento.

Ramagem não apenas saiu “de fininho”.
Ele provou que, no Congresso brasileiro, o silêncio é tão eficiente quanto um passaporte diplomático — e que, se a Casa não olhar para si mesma, outros poderão fazer o mesmo.

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