Estatal busca equilíbrio financeiro até 2027 e prepara cortes de custos, venda de imóveis e novo programa de demissão voluntária
Brasília – Em meio a uma das piores crises financeiras de sua história, os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) um amplo plano de reestruturação. A estratégia prevê a contratação de R$ 20 bilhões em empréstimos, com garantia da União, e uma série de medidas para conter despesas, reorganizar operações e diversificar fontes de receita. A meta é retornar ao lucro até 2027.
O presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon, confirmou que a negociação do crédito está em andamento com bancos públicos e privados. Segundo ele, os recursos serão aplicados no saneamento das contas e na modernização da estrutura operacional da estatal.
Rombo bilionário e desequilíbrio de caixa
De acordo com dados divulgados pela empresa, os Correios registraram prejuízo de aproximadamente R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre deste ano. O déficit de caixa ultrapassa R$ 5,6 bilhões, dificultando o pagamento de fornecedores e obrigações de curto prazo.
A situação é agravada pelo crescimento das despesas operacionais, estimado em cerca de 6% ao ano, e pela perda de receitas em segmentos estratégicos, como encomendas expressas e logística para o comércio eletrônico. Analistas apontam que a estatal demorou a se adaptar ao novo cenário de concorrência privada e digitalização do mercado.
O plano de recuperação
O pacote de reestruturação contempla três frentes principais:
-
Operação de crédito – O empréstimo de R$ 20 bilhões será dividido em duas etapas, sendo R$ 10 bilhões liberados em 2025 e o restante em 2026. A União atuará como garantidora da operação.
-
Redução de custos – A empresa prepara um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV), direcionado a áreas com baixa produtividade. Também estão previstas renegociações de contratos com fornecedores e a venda de imóveis ociosos.
-
Novas fontes de receita – Os Correios pretendem expandir sua atuação em serviços de logística integrada e marketplace, setor em que já opera em parceria com a Infracommerce, oferecendo mais de 500 mil produtos.
Segundo Rondon, o foco do plano é “restaurar a eficiência econômica da empresa e garantir sustentabilidade de longo prazo, preservando o papel social dos Correios no atendimento a todos os municípios do país”.
Cautela e resistência
O plano, entretanto, enfrenta resistências internas e preocupações fiscais. Sindicatos de trabalhadores avaliam que o novo PDV pode provocar sobrecarga de trabalho e afetar a qualidade dos serviços. Já no governo, a principal preocupação é o risco fiscal, já que o Tesouro Nacional será responsável por cobrir eventuais inadimplências do empréstimo.
A equipe econômica defende que a recuperação da empresa deve ocorrer sem aportes diretos de recursos públicos. Por isso, o crédito será condicionado à execução de medidas de ajuste interno e melhoria de gestão.
Desafios e perspectivas
Especialistas apontam que o êxito do plano dependerá da capacidade da estatal de modernizar processos e aumentar a eficiência operacional, sem comprometer o atendimento à população. O cenário macroeconômico — com juros altos e desaceleração do comércio eletrônico — também pode influenciar o ritmo de recuperação.
A expectativa é que o conselho de administração dos Correios vote o plano até o fim de outubro. Caso aprovado, o empréstimo poderá ser contratado ainda neste ano. A estatal prevê iniciar 2026 com indicadores de melhora e alcançar o equilíbrio financeiro apenas em 2027.
Correios buscam reinventar papel estratégico
Com mais de 360 anos de história e presença em todos os municípios brasileiros, os Correios tentam agora conciliar sua função pública com a necessidade de competitividade no mercado. A reestruturação bilionária é vista como uma última tentativa de evitar colapso financeiro e reposicionar a empresa num setor cada vez mais dominado pela iniciativa privada.

0 Comentários