Há quem finja surpresa, mas a política brasileira nunca funcionou de outra forma: quando o jogo aperta, surgem nomes, desaparecem nomes e criam-se candidaturas que, na prática, não existem.
É exatamente o que acontece com Flávio Bolsonaro.
Nos bastidores, sua “pré-disposição” a encabeçar o projeto do PL para 2026 tem menos a ver com protagonismo e muito mais com estratégia — ou, como muitos já chamam, uma grande negociata.
Flávio é o nome que pode ceder — porque nunca foi o nome final
Flávio Bolsonaro pode até estar no centro das conversas hoje, mas quem observa Brasília com atenção sabe: ele é o nome que está na mesa justamente porque pode ser retirado dela.
E isso acontece por um motivo simples: seu papel não é ser o candidato definitivo, e sim funcionar como peça de pressão.
Peça de pressão para quê?
Para fortalecer o poder de negociação da família Bolsonaro e do PL no objetivo maior: melhorar a situação jurídica de Jair Bolsonaro, e avançar nas demandas da militância pela libertação ou revisão das prisões de 8 de janeiro.
Em política, chamar isso de “negociação” é elegante demais. O termo que circula nos corredores é outro: moeda de troca. A leitura nos bastidores: o real “candidato” sempre foi o interesse do próprio Bolsonaro.
Bolsonaro sabe que nome nenhum mobiliza a direita como ele. Por isso, o nome de Flávio funciona mais como escudo político do que como projeto verdadeiro. Se Bolsonaro considerar que vale recuar esse nome para abrir espaço em troca de acordos, avanços ou rearranjos que possam beneficiá-lo juridicamente, ele recua.
Se entender que Flávio mantém sua influência intacta dentro do PL, ele avança. No fim das contas, Flávio não é o eixo.
Bolsonaro é.
E Flávio existe como extensão do pai — não como alternativa ao pai.
O centrão nunca comprou essa narrativa: o nome deles sempre foi Tarcísio, Enquanto o PL ensaia a candidatura de Flávio, o Centrão observa tudo com a frieza de sempre.
Para eles, o “candidato natural” da direita moderada e dos caciques do Congresso sempre foi outro: Tarcísio de Freitas.
Desde o início das conversas de 2023, Tarcísio era visto como:
o nome palatável ao mercado,
o nome aceitável ao Congresso,
o nome sem desgaste jurídico,
o nome capaz de dialogar com o eleitor conservador sem carregar os passivos do bolsonarismo.
O problema?
Tarcísio não está sob controle de Jair Bolsonaro.
E o bolsonarismo raiz não perdoa autonomia.
É por isso que a candidatura de Flávio reaparece sempre que o PL quer lembrar ao Centrão que Bolsonaro continua sendo o fiel da balança — e que qualquer composição para 2026 terá que passar, de um jeito ou de outro, pela mesa da família.
A equação final: Flávio é carta de pressão, não carta final
Enquanto houver incerteza sobre a situação jurídica de Jair Bolsonaro, haverá também movimentações artificiais, cenários forçados, candidaturas infladas e recuos calculados. A verdade incômoda é simples: Flávio pode até ceder — porque nunca foi pensado para ser o protagonista.
A função dele é proteger o espaço da família, reforçar o capital político do pai e servir como instrumento no grande acordo nacional que muitos acreditam estar sendo desenhado nos bastidores.
E nesse jogo, o recado é claro:
O PL empurra o nome de Flávio para cima.
O Centrão insiste em Tarcísio.
E Bolsonaro mantém todos reféns de sua movimentação — ou da falta dela.
O que está em disputa não é apenas uma candidatura.
É o futuro político do ex-presidente e todo o baralho que vem junto com ele.
E enquanto essa equação não se resolver, 2026 seguirá sendo o ano em que todos falam de nomes — mas só um nome realmente decide.

0 Comentários